segunda-feira, agosto 21, 2006

Expressões Idiomáticas

A baca do pobre quando há-de parir, amobe! O pobre não pode ter esperanças; ao pobre tudo de mal acontece!

À certa! : exclamação semelhante a : é verdade!; tem razão!

À certa?: De certeza? É mesmo verdade?

À arrebunhana, peido apanha: diz-se a quem, com sofreguidão, quer apanhar tudo para si.

À eira, que está o bacalhau na caldeira!: grito que se lança, do cimo da malhadeira, para chamar os malhadores à malha. Estar o bacalhau na caldeira significa que já está de molho, ou seja, que, em casa, as mulheres já começam a preparar a refeição que hão-de servir aos malhadores. Os pratos da malha são muitos, nunca faltando um ou dois de bacalhau.

A ordem é rica e os frades são poucos!: Esta expressão utiliza-se sempre em sentido irónico. Diz-se acerca de alguém que, não tendo, gasta como se tivesse, ou sobre alguém a quem é pedido que dê o que não pode dar.

Acomodar o gado: alimentar os animais: de estábulo ou de capoeira (ac'modar)

Andar à porra e à maça: Discutir; andar à tareia. Ser como cão e gato."Aqueles dois andam sempre à porra e à maça!"

Apalpar as unhas: levar uma tareia. "Tu queres-me apalpar as unhas!"

Arder a casa de alguém: diz-se quando alguém casa uma filha.

Arreganhar os dentes: rir muito. "Porque é que estás a arreganhar os dentes?"

Arriar o calhau: fazer as necessidades fisiológicas. O mesmo que baixar as calças

Às mãos ambas: com sofreguidão

Atirar ó pilha: lançar artigos ao ar para que, caídos no chão, sejam apanhados por quem quiser e mais possa apanhas

Bai pastar grilos: vai chatear outro! Há a variante: "bai pastar grilos, que é tempo quente!"

Bai-te emboligar no linho como os cães: vai passear! Mais propriamente: vai-te f...

Baixar as calças: fazer as necessidades fisiológicas. "Bou baixar as calças"

Bara de berde berdasco: expressão para ameaçar tareia com a vara fina e maleável da verga. Há as alternativas bestido ou camisa de berde berdasca: Queres um bestido de berde berdasca, queres!

Bater-se cum: (com) encontrar alguém. Ser capaz de comer muito.

Bicho rõe: chama-se à pessoa que tem mau carácter. Dito em tom carinhoso, pode ser expressão de afecto

Boca aberta: que está sem fazer nada. Ele é um boca aberta! Que fazes aí, de boca aberta?

Carro roussão: carro de bois que se manobra com dificuldade. Diz-se, também, da pessoa que anda devagar, atrasando as outras.

Casamento das nobas: ritual celebrado a meio da Quaresma, uma brincadeira de rapazes que pode incluir-se nas "festas dos rapazes" e considerar-se um prolongamento do Carnaval. É celebração nocturna e opõe-se à celebração diurna, no mesmo dia da "serra das velhas".

Catraquinze dias: há muito tempo. Isso foi há mais de catraquinze dias!

Chorar por o caldo de ont'à noute: queixar-se ou chorar sem motivo ou por coisa sem importância

C'mum quera!... : Tu vê lá o que fazes!...

C'mum quera: tanto faz; é indiferente

Coisa rõe: pessoa pequena e miúda

Correr o cão: andar sempre de um lado para o outro; que está sempre na casa dos outros

Cheirar mal como a boubela: cheirar muito mal, a esterco. A boubela faz o seu ninho a partir de excrementos.

Cum língua de palmo: fazer alguma coisa com língua de palmo significa que se não tem alternativa. "Bais barrer a casa e cum língua de palmo!"

Cortaste-le ũa orelha? Pergunta-se a quem reclama como seu aquilo que lhe não pertence

Cu entre nalgas: pessoa muito medrosa

Dar a risa: ter vontade de rir. "Dou-me a risa!"

Dar a teta: amamentar

Desfichar os dentes: (descerrar, abrir) comer pela primeira vez no dia (çfichar os dentes)

Diabo de baltelhas: Pessoa sempre em movimento; aquele ou aquela que passa muito depressa

Doutor da mula ruça: aquele que não presta para nada

Embarrar o pote: fixar residência. "Foi embarrar o pote lá pra cascos de rolha!"

Esborralhar-se a casa de alguém: diz-se da mulher que deu à luz. Se a mulher é solteira diz-se que se esborralha a casa do pai dela.

Estar/ andar de menino: estar grávida (a mulher séria)

Estar/ andar prinhada: estar grávida (a galdéria)

Estar com a perna quebrada: estar sem fazer nada "estou para aqui c'ũa perna cubrada!"

Estar ó Rita ó Ana: temer as consequências (órritóana)

Fazer bo: legar em testamento

Fazer bô de...: corrigir. "Num fui capaz de fazer bô dela" tanto pode significar a incapacidade de corrigir um comportamento, a incapacidade de lavar bem a roupa, a incapacidade de arrancar todas as ervas daninhas, etc.

Fazer pouco de alguém: troçar

Fazer mangação de alguém: imitar a pessoa de forma dedenhosa

Ficar co'a cara a um lado: envergonhar-se: "Ou fiquei co'a cara a um lado!"

Ficar fora de bila e termo. Usa-se quando se quer falar de um lugar que fica muito longe.

Fingir para cozer: não tens nada a ver com isso! Responde-se a quem pergunta: "o que bais a fazer?"

Fura-te o papo?: Pergunta-se, retoricamente e em tom de desagrado, a quem mostra não gostar de algum alimento ou trabalho

Gaba-te cesto!: Diz-se a alguém que se gaba de ter feito coisa má como sendo coisa boa ou, simplesmente, aquele que se gaba a si próprio.

Geada na lama é nebe na cama! se choveu e depois aclarou o dia, começa a gear. À noite, cai neve pela certa certa!

Ir a campo: o mesmo que baixar as calças e arriar o calhau

Ir ao sino: alguém ir ao sino. Expressão que se usa quando se quer mostrar surpresa perante uma acção inusitada de alguém. "Se ele passar sim resmungar, ou bou-me ò sino!"

Ir no birgo: tradição que consiste em os rapazes irem buscar a filha casadoura dos donos da malha, sentá-la no birgo (último moio da meda) e içá-la até à malhadeira.

Lubar no birgo: (levar...) ter actividade sexual

Lubar ũa andaina; lebar ũa tosa; lebar ũa enxúndia: (levar...) apanhar uma valente tareia

Mais ca pouco: muito (Isso aconteceu há mais ca pouco tempo!)

Olha que tu chupitas!: Olha que levas tareia!

Olhos de carneiro mal-morto (ter ou andar de): andar de olhos semi-cerrados; alternativa à piscadela

O zorro chama mintiroso ao pai! Se o bastardo se parece sempre com o pai biológico, então o pai que lhe deu o nome...

Olhos de gato: olhos de cor clara e grandes

Ou nim xiquera sei!: eu sei lá! Também se diz, em tom de ameaça, quando alguém faz alguma coisa que nos desagrada muito:" tu bê lá o que fazes! Olha q'ou nim xiquera sei!"

Pegar com o ombro: fazer as coisas como deve ser. Pegou-me com o ombro, disse a Tia Isaura de Freixo de Espada-à-Cinta, referindo-se ao médico que, finalmente, a observou como deve ser.

Ponta da natureza: o pénis

Pôr caniças: encher excessivamente algum recipiente. Diz-se sempre em tom irónico: pusesses-le caniças! (por exemplo, à malga do caldo)

Pró céu bá!: diz-se a quem espirra

Que mais queres? : que preferes? Nada mais podes desejar!

Quem te pega?: quem te impede?

Quem tem padrinhos num morre mouro: há quem utilize esta expressão em sentido literal, entendendo-se como "mouro" aquele que ainda não foi baptizado. Mas o sentido profundo é bem menos cristão, como se depreende: quem tem padrinhos não precisa de se matar a trabalhar... É a nossa forma de falar do nepotismo!

Quer não que...: expressão de reforço da afirmação, negando-a. "Quer não que ele a bida está barata! "Quer não que fai pouco frio!"

Queres chula, tu!: Diz-se, em tom irónico, à criança / jovem que, comportando-se mal, é ameaçada de tareia.

Quintos dos infernos: lugar distante e mau (Beio de lá dos quintos dos infernos!)

Reparar bem reparado: ver atentamente. "Reparou im tudo bem reparado!"

Ser cilado por: gostar perdidamente de alguém ou de alguma coisa. "Está ciladinho de todo por a rapariga!": está perdidamente apaixonado

Serra das belhas: Celebração de encerramento do ano velho natural e que se realiza durante a Quaresma. Opõe-se ao "casamento das novas".

Ter maldade: ser capz de atribuir segundo sentido às palavras. "Olha que ele já tem maldade!"

Ter o coração num punho: estar muito preocupado

Ter o cu a apanhar guiços: ter muito medo

Ter os dentes cortados: ter os dentes embotados, sensação normalmente provocada pela mastigação das laranjas muito azedas e frias

Ter os olhos nos dedos como os galegos: Diz-se de alguém que não é capaz de ver sem mexer.

Tirar a frente: ultrapassar




5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Como linguista fiquei satisfeito ao encontrar esta página com estas características. Li tudo, com paixão, aprendi e absorvi com intensidade, e voltarei aqui sempre na busca de novas actualizações. Algumas dessas expressões são também usadas em Paredes de Coura. Por isso, muito timidamente, recomendo o meu blogue COURA: magazine, onde presentemente público de quatro em quatro dias uma crónica sobre o tema genérico LINGUÍSTICA DE COURA: Nótulas Sobre o Falar de Paredes de Coura. Parabéns.

6:33 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agradeço as amáveis palavras que teve a bondade de deixar no blogue A ILUMINURA, minha paixão, para além da minha terra e de outras que não vem ao caso. Tinha, inicialmente, 7 blogues na Internet, sendo cinco deles dedicados ao meu concelho, Paredes de Coura (Viana do Castelo), outro dedicado à minha freguesia natalícia, Padornelo, e mais um dedicado à terra da minha mulher, Vila Flor, em Trás-os-Montes. Hesitava quanto ao tema dum novo blogue – talvez História da Medicina –, quando, por questões várias, me decidi pela iluminura, na medida em que tenho alguns, poucos originais, algumas reproduções, e uma vasta bibliografia. Eis a génese do blogue A ILUMINURA. Aí publico todos os dias 6, 12, 18, 24 e 31. Passarei a ser visita assídua deste seu interessante blogue e do outro, URZEIRA, que agora descobri, com sincero prazer. Aliás, quis deixar na Urzeira um comentário, mas está limitado aos utentes da Blogger. Parabéns.

7:17 da tarde  
Blogger MPS said...

Obrigada, eu! Um elogio vindo de um linguista é elogio dobrado!

Como deve compreender, é o dicionário que mais tempo me consome (ando sempre de papel em punho para não perder nenhum vocábulo de que me lembre); já tenho quase pronto um capítulo sobre fonética (como gostaria de ser linguista para que ele saísse perfeito!) e queria acrescentar um terceiro sobre gramática, particularmente a conjugação verbal. Custa-me muito este império das zonas do Sul sobre a nossa Língua e foi por isso que decidi fazer o apanhado possível do vocabulário brigantino. Limitei-me geograficamente ao concelho porque sei como as pessoas pronunciam as palavras (fundamental para a distinção entre a escrita com 's' ou com 'ç'e com 'x' ou 'ch', pois é daí que eu sou, embora não viva lá desde os 10 anos. Mesmo assim, há divergências entre mim e meu irmão, precioso auxiliar nestas lides.

Verei o que se passa com os comentários na "Urzeira".

Certamente visitarei o seu blogue "Coura": afinal o Minho e Trás-os-Montes são gémeos siameses unidos pela coluna vertebral, não é verdade?

9:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Descobri este blog hoje, por casualidade...parabéns...gostei muito.Sou transmontana,por afinidade, e acho imensa piada às expressões que oiço a familiares.Tenho pena que o blog esteja adormecido.Espero qeu ressuscite em breve e, vou mandar-lhe algumas des expressões que oiço...;)

6:28 da tarde  
Blogger MPS said...

Cara Navegante, há casualidades felizes! Folguei de a encontrar por aqui. Pena que não me tenha dado indicações para que lhe possa responder pessoalmente. Ainda bem que gostou da página, porque é com muito carinho e bastante trabalho que a vou mantendo: apesar de parecer adormecida, ela vai vivendo, sobretudo nas actualizações do dicionário mas, porque são actualizações, não se fica com a indicação de nova entrada.

Agradeço-lhe, do fundo do coração, todas as expressões que me enviar e que enriquecerão o "espólio" que, modéstia à parte, já é grandinho. Caso lhe interesse entrar directamente em contacto comigo pode fazê-lo, por favor, para:

mariastocker@gmail.com

Obrigada pela visita e pelas palavras. Assim somos os transmontanos, mesmo os que o são por afinidade e aqueles que, como eu, vivem distantes.

6:43 da tarde  

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