quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Do abade de Baçal

O Jofre andou, aqui há tempos, de voltas com as Memórias Arqueológicas do Abade de Baçal (obra que também existe cá em casa e que me dá horas de grande prazer) e, com o seu espírito metódico, coligiu uma série de vocábulos que fez o favor de me fornecer para o Brègancês. Outros são recolha pessoal e de sua esposa. Bem-hajam ambos.

A lista está tal e qual como me foi enviada, porque o Jofre, na sua honestidade intelectual, quis distinguir aquilo que foi recolhido no Abade de Baçal daquilo que foi recolha própria.

Depois do Entrudo incluirei outras adições, desta feita fornecidas pela Porca da Vila.

Abocar: examinar a boca dos animais.

Abocada: parir ou prestes a parir.

Abuticado: hipotecado.

Acolhostrar-se: decomposição por fervura do primeiro leite dos animais.

Acobilhar: semear. (Não confundir com acbulhar)

Acochar: acocorado sobre os joelhos, meio sentado sobre os joelhos.

Adagues: plantação de videiras; uma linha de plantação de videiras.

Aixada: enchada.

Aixeda: enxeda, chedeiro; uma peça do carro de bois.

Albitar: alveitar; ferrador de bestas; médico de bestas.

Almandrilhas: brincos.

Almorróidas: hemorróidas.

Angulho: náusea; nojo.

Anté: até.

Amornalar: reunir os molhos de cereais. (Ver mornal)

Pacilaina: de um lado para o outro: «andar de pacilaina».

Rastra: de gatas, de rastro.

Aneixa: oportuna; propícia.

Antrar: entrar.

Apascado: pateta; apatetado.

Garrocha: capa de palha

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

No sossego da madrugada, deixo mais umas informações do falar “transmontanês” (como diz divertidamente o meu filho), e que foram colhidas num apontamento que fiz a partir da obra do abade de Baçal:

Baranha: qualquer coisa enlaçada e difícil de separar.

Bazofas [bazófas]: alcunha dos habitantes de Babe. [no plural, a partir de bazófia].

Bestruz: pessoa desajeitada; brutamontes; pateta.

Bezerra: pão com defeito, por estar mal cozido junto à côdea.

Bolecra [bolêcra]: castanha que não chegou a ganhou polpa.

Braçó: parte dos varais da enxeda ou carro rural.

Braijeiro: brejeiro.

Brezunda: pândega.

Bufanda: agasalho em volta do pescoço, geralmente de lã.

Búzara: pança; estômago.

E de outros apontamentos que coligi, como sendo regionalismos de Trás-os-Montes:

Baeta: tecido grosso e felpudo de lã.

Bailo: baile.

Baina: vagem do feijão (em Deilão).

Bancelho: verga ou corda para atar molhos (em Bragança). [do latim vincilia?].

Bânzios: paus da urdideira usados para tecer (em Babe e Bragança) [no plural; do castelhano banzo].

Baral: telheiro, alpendre (em Deilão).

Barcal: vaso ou alguidar para recolher a carne de porco já temperada, o “chicho”. (em Bragança).

Bardeiro: vassoura feita de arbustos (em Sacoias e Bragança).

Bárdia: pilha de lenha (em Deilão). Mas em Vinhais é “bardea (= bardêa).

Barilhas: caixilho de madeira para fazer girar as peneiras para peneirar a farinha (Deilão). [no plural].

Barraquinha: jogo infantil, que é conhecido como sendo o de “João Barqueiro”, ou do “bom-barqueiro” (em Parâmio).

Barrasco: berrão, porco não castrado (em Parada). [Mas também no Minho].

Barrenho: alguidar de barro (em Deilão). Noutros sítios é “barrenhão”, como em Mogadouro, ou “barranhão”, como em Freixo de Espada à Cinta.

Bazelo: musgo, mas só os das escadas (em Sacoias).

Beche: bode (em Bragança). Mas noutros sítios designa a carne ou chiça de cabra, como em Valpaços.

Belada: local de reunião nocturna, ou onde as pessoas fiam, dançam e cantam (em Deilão).

Beldro: lã do carneiro depois da tosquia (em Sacoias).

Betas [bêtas]: palha a servir de telhado (em Deilão).

Bicha: cobra; sanguessuga (em Deilão).

Boieiro: pastor de vacas (em Coelhoso, Bragança).

Bolha: galho de árvore (em Sacoias).

Boto [bóto]: indivíduo gordo.

Boubela: poupa, a ave de arribação.

Braseira: borralho (em Deilão).

Brégança: Bragança (em Baçal).

Briço: berço (em Deilão).

Bruído: ruído (em Deilão).

Bucho: buraco no carro de bois onde entra o eixo (em Varge, Bragança).

Bulheco [bulhêco]: bugalho; excrescência que se desenvolve sobre as folhas de carvalho, causada por um insecto (em Deilão). Noutros sítios recebe o nome de “bulhaca”, como em Moncorvo, ou “bulhacra”, como em Alfândega da Fé.

Burriqueiro: pequeno lavrador que trabalha a terra com burros (Bragança).

Buxete: instrumento de sapateiro que se usa para alisar os saltos e as bordas da sola dos sapatos, que geralmente é conhecido noutros sítios por “bisegre” (de “buxo”, peça de madeira usada pelos sapateiros para sobre ele coserem o cabedal e alisarem o calçado).

6:18 da manhã  

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