domingo, fevereiro 24, 2008

Nobas lenga-lengas


Im dias de chuba, a canalha intretem-se cum aquilo que pode: a boze de cada um que se junta às bozes dos garotos de todas as casas da bezinhança: òs gritos, na ponta da escaleira, é oubi-los ò desafio:


- Chobe, chobe

No cu do pobre!


- Chubiçca, chubiçca(1)

No cu do Francisca!

Onde acabum uns, pègum os outros. Quando se cansum dêsta, lá bai outra:

Está a chober
E a nebar
A raposa atrás do lar
A fazer os casaquinhos
Pr'amanhã s'casar!

Ou nim sei cmum é que os mais belhos se num zangabum, tal era a gritaria!
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(1) Chuvisca(r)

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terça-feira, fevereiro 05, 2008

No rescaldo do regicídio

Não é para aqui chamada a querela em torno da evocação do regicídio. No entanto, as leituras que fiz a esse popósito, trouxeram-me à memória um jogo de roda dos muitos que a mocidade dançava em dia de Páscoa. Diz assim o texto, que pouco tem de ancestral:

Refrão:
As papoilas encarnadas
A brilhar entre os trigais
São tão lindas delicadas
como as rosas nos rosais.

Viva a alegria
Dançar, dançar
Dançar de roda
Com o seu par.

Quatro com cinco são nove,
Meu amor já sei contar
Engaste-me uma vez
Não me tornas a enganar.

Refrão

Um, dois, três
quatro, cinco, seis,
Sete, oito, nove,
Para doze só faltam três.
Para doze só faltam três,
Ó Micas dá cá um beijo
João Franco foi ao Porto
Só para ver o colégio.
Só para ver o colégio
Das botinhas amarelas
Tem cuidado João Franco
Senão quebro-te as costelas!

Ora aqui está e peço ajuda a quem de boa vontade!

Que João Franco foi ao Porto em Junho de 1907 é verdade - e no regresso a Lisboa foi recebido na estação do Rossio com uma manifestação de republicanos e descontentes liberais monárquicos.

Que a última estrofe do poema é uma ameaça clara a João Franco não há dúvia.

Que essa estrofe foi metida, a talhe de foice, numa cantiga popular também não há dúvida.

Mas...

Que colégio é esse das "botinhas amarelas" no Porto?

A minha gratidão serão as alvíssaras que pagarei a quem puder ajudar-me!

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domingo, fevereiro 03, 2008

Ditos

Sobre o crescer dos dias:


No Natal, um salto de pardal
Em Janeiro, salto de cordeiro.



Sobre o tempo e os estados de tempo:

Que noite está, pra capar cães e enxugar paridas!


A importância dos estados do tempo:

Ramos molhados, carros carregagados


(ou seja: se chover na altura da festa dos Ramos, haberá boas colheitas)

Na semana de Ramos
Laba tous panos
Na da Paixão
Labarás ou não!


(alusão ao mau tempo que sempre bem na Semana Santa)

As certezas do eterno retorno:

Se o cuco num bier
Entre Março e Abril
Ou o cuco está morto
Ou o fim do mundo pra bir!


Bersão diferente do Março Marçagão:

Março Marçagão
de manhã cara de rosa
à tarde cara de cão


Esta era de mou pai:

Páscoa im Março, ou fome, ou grande mortaço!


E do pobo:

Im Março chega o pão ò Chargoaço


Os meses e os trabalhos:


Im Feb'reiro entra o sol im qualquer ribeiro
Im Março, tanto durmo cmum faço!

Que é cmum quem dize:

Em Fevereiro entra o sol em qualquer ribeiro
Em Março, tanto durmo como faço.


Ditos variados

O senhor João Mata, de Rebordãos, é um manancial. Da boca dele saíram estes dois ditos:




Pedra que munto mexe, num cria musgo.

(Que é cmum quem dize: pessoa que muda de bida, ou de terra muntas bezes, num junta nada - na explicação de minha irmã.)



Quem dá o que tem antes que morra merece c'ũa porra!

(Ou seja: mal bai a quem faze as próprias partilhas antes de morrer!)


De sua mulher, a senhora Benedita:


Quem quer ber o home morto
Dê-le coubes im Agosto!

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