sábado, janeiro 26, 2008

Lenga-lengas

Dize-se assim òs garotos, enquanto se les segura nas partes do corpo:


Chize, chize, chize
Tênho um burriquinho
preso p'lo narize! (1)

Formiga, formiga, formiga
Tênho um burriquino
preso p'la barriga

Têlha, têlha, têlha
Tênho um burriquinho
preso por ũa orelha

Agôra, a bersão adulta:

Chize, chize, chize
Minha carapuça
Minha abó é belha
tem a cousa ruça

_________

(1) Versão em Português:
Xis, xis, xis
tenho um burriquinho
preso p'lo nariz

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segunda-feira, janeiro 14, 2008

Cousas nobas e belhas


Nobidades: espressões idiomáticas / ditos (ber índice):


1 - "Geada na lama é nebe na cama!" Querendo dezer: se chobeu e depois aclarou o dia, começa a gear. À noite, é nebe certa!


2 - "Fica fora de bila e termo". Esta usa-se quando se quer falar de um lugar que fica mũto longe.


E porque é tempo da geada, aqui ficum os candeolos, pra quem os nunca biu (consultar o dicionário no índice):


Para aprobeitar o tempo e as fotografias do presépio, tamém aqui ficum as images do carreto e das cancelas (ber índice):

As cancelas são a cerca onde se guarda o gado quando, a partir da Primabera, pernoita nos montes. O carreto é o carro forrado a lata onde dorme o pastor.

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sexta-feira, janeiro 11, 2008

Quem tem padrinhos...

Quem tem padrinhos num morre mouro (ber, no índice, expressões idiomáticas).
Pois desta feita, o mou padrinho foi o Jofre, que me insinou a pôr o til im cima do u. Assim:
Ũ ũ!
Mourejou ele por mim. Bem-haja ele!

Agora, bou ter ũa trabalheira, que é reber tudo o que está escrito aqui no Brègancês. Sou ou que bou a mourejar!

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Correcção

Ó Mariazinha, o que o careto traz na mão não é um cajato mas sim uma fouce com a qual tirava as chouriças do fumeiro (chouricinha, chouricinha...)

E assim, com toda a autoridade, fui corrigida!

Para os não brigantinos: importa não confundir fouce (foicinha, também designada por roçadoura) com seitoura. Com a seitoura ceifam-se - sègum-se - os cereais, mas com a fouce cortam-se as silvas, colhem-se os frutos dos galhos inacessíveis... e também se roubam as chouriças do fumeiro.

Como este!

terça-feira, janeiro 08, 2008

Festas dos Rapazes

Dia de Reis

Im Rebordaínhos o dia de Reis é, no ano, o primeiro momento da festa dos rapazes. Lá mais para diante, im plena quaresma, outros momentos hão-de bir. Tais momentos barêium de pobo para pobo, mas há-os im quase todas (ou todas) as aldêias de Trás-os-Montes.


Im Rebordaínhos, no dia de Reis é assim: partindo do adro, o mordomo das Almas, os cantadores e o careto, dão a bolta ò pobo. O careto chocalha as raparigas que encontra por o caminho e entra cum espabento por as casas a dentro. Nũa mão leba ũa fouce e na outra leba ũa maçã. A mão com a maçã é estendida à dona da casa enquanto pede (mesmo im tempos de euro): Ua croinha, ua croinha! Ò careto num se le podia ber parte niũa do corpo e ninguém, a num ser os rapazes, sabia quem é que bestia o fato. A cara andaba sempre tapada co' a careta.


A seguir ò careto chega o resto da companha. Im casa onde há luto, cum respeito, os cantadores perguntum: Bós querêis que rezemos, num é? Nas outras casas cantum assim:


Im tais festas c'mum êstas
Cantum-se os Reis òs fidalgos,
Também nós os cantaremos,
A estes senhores honrados.

Ó Birgim Santa Maria,
Bós sois a estrela do mar,
Sim a bossa protecção,
Num podemos nabegar.

Oh! que rico cacho de ubas,
Criado im Santarém,
Oh! balha-me Deus cassim tarda,
Este binho que num bem.

Oh! que rico pinheirinho,
A que porta foi nascer,
À porta destes senhores,
Que nos bêim dar de buber.

Bênha binho bênha binho,
Qu' ou água num sei buber,
A água tem sanguessugas,
Tênho medo de morrer.

Rei Gaspar e Baltasar,
São três reis cum Belchior,
Todos os três bão adorar,
Jesus Cristo Redentor.

Fica assim im Português de lei:

Em tais festas como estas,
Cantam-se os Reis aos fidalgos,
Também nós os cantaremos,
A estes senhores honrados.

Ó Virgem Santa Maria,
Vós sois a estrela do mar,
Sem a vossa protecção,
Não podemos navegar.

Oh! que rico cacho de uvas,
Criado em Santarém,
Oh! valha-me Deus que assim tarda,
Este vinho que não vem.

Oh! que rico pinheirinho,
A que porta foi nascer,
À porta destes senhores,
Que nos vêm dar de beber.

Venha vinho venha vinho,
Que eu água não sei beber,
A água tem sanguessugas,
Tenho medo de morrer.

Rei Gaspar e Baltasar,
São três reis com Belchior,
Todos os três vão adorar,
Jesus Cristo Redentor
.


Mas há muitas bariações: nuas casas pede-se ua chouriça; noutras, onde se sabe que nunca se recebe nada, os cantadores despendim-se c'ua quadra a dezer mal, etc.
No fim da ronda, o que foi dado ò mordomo das almas fica para celebrar missas por êlas; as chouriças, as bubidas e o dinheiro (tamém o do careto) são gastos por os rapazes im grande festança de comezaina e bubedeira.

E como os tempos são outros, o careto já mostra a cara!

Agradeço à minha irmã, Augusta Mata, o envio das fotografias e das quadras em Portugês.